quarta-feira, 19 de outubro de 2011

É um pássaro ou um avião?

"Todo homem que encontro é superior a mim em alguma coisa. Por isso, dele sempre aprendo alguma coisa." (Ralph Waldo Emerson)

Imagine-se em algum desses lugares: no carro, no trem, no ônibus, na rua, na fila da padaria, no mercado, e de repente alguém vem lhe solicitar um auxílio. Tal cena se repete por incontáveis vezes em todas as cidades, porém, você já presenciou alguém pedir ajuda financeira a um desconhecido preservando a própria dignidade?

Há algum tempo isso me aconteceu no trem, indo da região do ABC para São Paulo.

Ao partir da plataforma, um senhor que estava sentado levantou-se e dirigiu-se aos demais passageiros. Ele usava óculos, calçava um par de chinelos de tiras, calça social, camisa, uma blusa por cima bem desgastada pelo tempo e um gorro de lã. Aparentava ter uns 70 anos, mas observando-o de perto, presumo que ele não tinha nem 50 anos. Com certeza o envelhecimento acelerado era um dos sintomas de seu estado de saúde.

Apresentou-se como portador de leucemia e diabetes e segurava um cartaz de papelão, no qual resumia a sua situação. Descreverei os itens que me recordo:

1. Como estava desempregado, não tinha condições de comprar os remédios e segundo ele, o INSS também o havia abandonado.
1.1 Ele é professor, mas a fragilidade de sua saúde o impedia de exercer a sua profissão.

2. Devido ao tratamento contra a leucemia, isso quando conseguia realizá-lo, já não possuía mais os cabelos e nem as unhas da mão esquerda, pois estas já haviam caído há muito tempo. Infelizmente, as da mão direita também estavam seguindo pelo mesmo caminho.
2.1 Para o tratamento da leucemia, a cura ou o alívio viriam na forma de um transplante de medula, mas antes era preciso encontrar um doador compatível. Como isso ainda não havia acontecido, ele continuava na fila de espera.

3. E para completar, ele morava com a esposa e seus três filhos de favor na casa de uma amiga porque não tinha a sorte de possuir familiares que o socorressem nessa hora tão difícil.

Vi-o contar as suas desventuras com a postura ereta, cabeça erguida e altivez. Sei que as pessoas que possuem esse tipo de força não sabem o significado da palavra desistir.

Terminou de contar a sua história e agradeceu antecipadamente a todos que pudessem ou não lhe prestar um auxílio.

Não se humilhou. Não se prostrou de joelhos, não chorou e muito menos implorou por ajuda.

Não ameaçou e nem intimidou.

Contribuí, como os que o fizeram, com menos do que deveria e com mais do que poderia para aquele momento. Olhando firmemente nos nossos olhos, ele nos retribuiu com um “Muito Obrigado e que Deus o ajude”. Vi claramente no seu olhar traços de gratidão mesclados com muita nobreza.

Entretanto, preciso ressaltar algo dito por ele que chamou a minha atenção e que a maioria dos mortais esquece. As palavras mágicas ditas com muito caráter, brio e elevação foram: “Peço apenas que não me julguem e não me critiquem.”

Já disseram que se leva um minuto para encontrar uma pessoa especial, uma hora para apreciá-la, um dia para amá-la, mas uma vida inteira para esquecê-la.

Para a minha sorte, afirmo-lhes que foi uma dessas raras ocasiões.

E para finalizar, espero sinceramente que a sorte do meu colega tenha mudado e aproveito para deixar aqui os meus parabéns a todos os professores por mais esse 15 de Outubro.

Por Roberto H. Tanaka

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