sábado, 7 de abril de 2012

Competência global: Resiliência – 2ª Parte

“O sofrimento é passageiro; desistir é para sempre.” Lance Armstrong

Winston Churchill disse: “Há um momento especial que acontece na vida de toda pessoa, o momento para o qual ela nasceu. Quando aproveitada, essa oportunidade extraordinária faz com que a pessoa cumpra a sua missão – uma missão para a qual somente ela tem as qualificações necessárias. Nesse momento, a pessoa encontra a grandeza. Esse é seu mais maravilhoso instante.”

Tal momento só pode ser encontrado por aqueles que persistem, pois persistir é acreditar.

Essa história foi contada pelos meus sogros e pela minha esposa e baseia-se em fatos verídicos. É sobre um dos muitos integrantes da Família Barros.

Antes do acidente ferroviário, o meu sogro foi um grande atleta. E maquinista. Há mais ou menos 29 anos ele foi literalmente atropelado por um trem e só sobreviveu porque se encontrava em grande forma física e era extremamente ágil.

Como sequela, não pôde mais praticar as artes marciais que ele tanto gostava. Ele é mestre de Capoeira e no seu currículo constam vários títulos, inclusive um vice-campeonato estadual. Nessa época, ainda treinava Defesa Pessoal, Boxe, Hapkidô e aprendia Kick Boxing.

Com o passar do tempo, ensinou os irmãos mais novos e a maioria dos seus sobrinhos.

De todos os seus alunos, ele sempre afirmou que um dos meninos, de longe, era o que mais se destacava. Toda vez que o meu sogro treinava com os irmãos ou os demais sobrinhos ele “pegava leve e se continha” porque não queria que ninguém se machucasse. A única exceção era quando tinha que demonstrar algo ao seu melhor aluno, pois era o maior em tamanho, força, e com a técnica mais apurada.

Um belo dia, ao mostrar-lhe um golpe, o meu sogro lhe disse:

– Você tem que entrar mais firme! Como eu saberei se você aprendeu da maneira correta, se você não completa o golpe?

– Tio, se eu fizer como o senhor está falando, eu posso machucá-lo!

– Faça do modo que lhe ensinei e não se preocupe comigo!

Resultado: ao finalizar o golpe, o meu sogro disse que subiu uns 2 metros e, ao notar que ia cair de costas, tentou amortecer a queda com as duas mãos e acabou abrindo ambos os pulsos. A minha sogra teve que levá-lo ao hospital porque ele não tinha condições de dirigir.

A minha esposa me falou que esse seu primo, aos 9 anos de idade, teve câncer em um dos ossos do ombro direito, a escápula, e a retirou cirurgicamente. Depois, submeteu-se a uma extensa bateria de exames e quimioterapia.

O médico aconselhou-o a praticar algum esporte. Então, ele começou a pegar aulas de Jiu-Jitsu até os 15 anos. Dos 15 aos 16 anos ele aprendeu Capoeira e um pouco das técnicas e filosofias das outras artes marciais com o meu sogro. Após, iniciou no Muay Thai, o boxe tailandês. Tornou-se professor de Muay Thai em pouco tempo.

Aos 20 anos ele já era instrutor na famosa Academia da Família Gracie, na região do ABC.

Com 21 ele foi para os Estados Unidos e tornou-se treinador do UFC (Ultimate Fighting Champioship ou Campeonato de Combates Finais), o mais famoso torneio de estilos MMA (Mixed Martial Arts ou Artes Marciais Mistas).

Até agora ele disputou várias lutas no circuito profissional e perdeu apenas uma e empatou outra.

Há duas semanas começou a ser transmitido um reality show intitulado TUF – The Ultimate Fighter Brasil – Em busca de Campeões. Inscreveram-se 5.000 lutadores e, por cruzamento de chaves e eliminação, restaram 32 concorrentes ao título.

Nesse programa de abertura eles se confrontaram e 16 passaram para a próxima fase, sendo 8 da categoria peso-médio e 8 da categoria peso-pena.

Para poder participar desse reality show, um desses 16 lutadores que pesava 93 kg e pertencia à categoria meio pesado teria que emagrecer aproximadamente 13 kg para ficar na categoria dos pesos médios. E isso nos 6 meses que antecederiam à inscrição.

Ele conseguiu esse feito devido à sua enorme disciplina e determinação. Disseram-me que ele possui uma extraordinária força mental, um grande coração e uma alma generosa.

Pois é, vocês adivinharam. Esse rapaz que citei agora é o sobrinho do meu sogro, o seu melhor aluno. O nome dele é Thiago, também conhecido como Thiago Bodão.

Tanto os meus sogros quanto a minha esposa não se surpreenderam ao vê-lo na telinha porque o conhecem e sabem o quão longe ele é capaz de chegar. Eles me disseram que ele alcançou este nível graças ao apoio da mãe, da esposa, de muitos amigos e, principalmente, ao próprio esforço. Toda vez que olho nos olhos dos meus sogros e vejo estampado o orgulho que sentem quando ele é focalizado, automaticamente me vem à mente uma frase famosa: Isso não tem preço!

Como a minha bola de cristal está um pouco embaçada, não sei se ele será o último a permanecer de pé ao final desse torneio, pois todos os que aí estão chegaram por merecimento e igual competência. Mas posso lhes assegurar que isso é entender o verdadeiro significado do Bushido, o Código de Conduta do Guerreiro Samurai: “o mais importante não é o destino final, mas a própria jornada.”

Então, o que mais posso lhes contar sobre o Thiago? Apenas isto: "Ele é alguém que conseguiu reescrever a própria história."

Encerrarei citando John Mason: “Limites são colocados sobre nós todos os dias. Dia após dia podemos escolher aceitá-los ou rejeitá-los.”

Texto escrito por Roberto Tanaka: professor e consultor da Arima Treinamentos.