“Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer novos erros.” (Confúcio)
Guilherme Solari e Cesar Hirasaki publicaram uma brilhante reportagem sobre a Cultura da Desculpa no Japão. Eles afirmam que todo japonês irá pedir desculpas em algum momento de sua vida, sendo culpado ou não. E o mesmo pensamento e critério são aplicados às empresas caso pratiquem algum ato que vá de encontro a essa tradição. Esses atos, com consequências trágicas ou não, vão desde encontrar um conhecido na rua e não cumprimentá-lo a obter lucro por meio de informações privilegiadas.
A resolução destes acontecimentos segue um protocolo muito rígido e pouco tolerante, cujo cerimonial é composto por gestos que não são padrões pré-determinados pela lei, mas modelos de comportamento que governam a conduta do indivíduo e são tão antigos quanto sua existência como povo.
Na cultura do sol nascente há 3 níveis de intensidade de Erro relacionados à Desculpa, sendo:
1. O ritual do “gomennasai” é expresso por um simples acenar com a cabeça em forma de reverência e um sussurrado “gomennasai” (tradução: peço desculpas). O grau de inclinação do corpo é proporcional ao peso na consciência do arrependido. É utilizado em vários momentos da vida do povo japonês. Se a falta e a afronta forem leves, isso bastará;
2. O rito do “doguezá” é realizado quando a falha e a ofensa são medianas e consiste em ajoelhar-se com a testa quase encostada no chão acompanhado de um “moushiwake arimasendeshita”, o qual deve ser dito em tom bem elevado e de forma clara (tradução: sou culpado e não tenho nada a dizer a meu favor); e
3. A cerimônia do “seppuku”, também conhecida como “harakiri”, é praticada quando se busca uma honrosa retratação. Solari e Hirasaki publicaram no seu artigo que, em 1582, após perder uma batalha, o General Akashi Gidayu cometeu o “seppuku” – cortou o próprio ventre com uma kataná (espada) diante de suas tropas. Quem assistiu ao filme “O Último Samurai”, protagonizado por Tom Cruise, presenciou este costume sendo executado em uma das cenas finais.
A real proporção que a Cultura da Desculpa no Japão é capaz de atingir é imensurável. Tal magnitude pôde ser acompanhada em diversas ocasiões quando governadores e ministros retrataram-se formalmente para restabelecer vínculos diplomáticos. Essa herança cultural é transmitida de geração a geração e desse conjunto de valores morais e espirituais, nem mesmo os imperadores estão isentos.
Para os japoneses, o “erro" desonra o nome da pessoa que o efetuou e o da sua família. De acordo com aquele velho ditado, realmente “o buraco é mais embaixo”, pois dependendo da gravidade, esta obrigação recai tanto sobre os que já se foram quanto aos que virão. Várias gerações podem se passar até que a família do arrependido consiga quitar este débito, restaurar o nome da sua linhagem e obter o perdão dos seus ancestrais. Essa é a maneira milenar do povo japonês se portar diante de um erro.
Por isso, não valorizar esse modo de vida ainda é um dos principais motivos pelos quais as empresas estrangeiras que se estabelecem no Japão dão o famoso tiro no pé. Segundo os consultores de crise japoneses, quando elas ignoram este hábito ou não o realizam corretamente, a opinião pública reage com uma fúria sem igual, pois na cultura nipônica conceder o perdão e relevar a falta é prática comum se a organização reconhecer e se desculpar rapidamente.
Há dois pontos de vista a destacar:
a) do lado ocidental, a orientação da alta direção é esperar o final das investigações e pedir desculpas somente se for comprovada a culpa da empresa. Fazê-lo antes significa admitir a responsabilidade, o que não é tolerável, pois incorrerá em custos elevados com processos civis e trabalhistas e, principalmente, denigrir a imagem da empresa; e
b) do lado oriental, na maioria das vezes o pedido de desculpas (gomennasai) é visto mais como uma forma de subordinação à sociedade do que verdadeiramente uma admissão de “mea culpa”. É um gesto humilde cujo propósito é demonstrar a minúscula importância do ser humano e consequente obediência que ele deve ter diante de uma sociedade muito maior e mais importante.
Infelizmente, nos 6 continentes o “profissional global” encontrará empresas que se orientam por meio da “cultura do medo” ao tratar das tentativas e erros de seus colaboradores quando estes buscam superar alguma contingência. Tais empresas adoram expressá-la por meio daquela famosa frase motivacional: – Se errar, passe amanhã no RH que eles querem ter uma palavrinha com você!
Assim como aprendemos a andar para frente, há casos em que você será julgado, condenado e punido por conta do seu engano. O ponto central da questão não é o erro, mas a relação que se cria com ele. Errar não é só humano como essencial ao crescimento pessoal e profissional. Júlio Lobos afirmou que, se você não tem fracassos na sua vida, é porque deixou de assumir os riscos que deveria e evidencio: as responsabilidades por suas escolhas.
Portanto, fecho esta trilogia com o pensamento de que ninguém é infalível e todos, sem exceção, estão sujeitos ao insucesso. Certas pessoas o chamam de cochilo, descuido, deslize, desvio, engano, equívoco, escorregada, escorregadela, falha, falta, imprecisão, lapso, mancada, pecado, tropeço, vacilada ou “Erro”. Ninguém deve ir ao encontro do erro, mas a verdade é que o grande General Napoleão Bonaparte só perdeu a guerra porque nunca havia perdido uma batalha sequer.
Por Roberto H. Tanaka
Guilherme Solari e Cesar Hirasaki publicaram uma brilhante reportagem sobre a Cultura da Desculpa no Japão. Eles afirmam que todo japonês irá pedir desculpas em algum momento de sua vida, sendo culpado ou não. E o mesmo pensamento e critério são aplicados às empresas caso pratiquem algum ato que vá de encontro a essa tradição. Esses atos, com consequências trágicas ou não, vão desde encontrar um conhecido na rua e não cumprimentá-lo a obter lucro por meio de informações privilegiadas.
A resolução destes acontecimentos segue um protocolo muito rígido e pouco tolerante, cujo cerimonial é composto por gestos que não são padrões pré-determinados pela lei, mas modelos de comportamento que governam a conduta do indivíduo e são tão antigos quanto sua existência como povo.
Na cultura do sol nascente há 3 níveis de intensidade de Erro relacionados à Desculpa, sendo:
1. O ritual do “gomennasai” é expresso por um simples acenar com a cabeça em forma de reverência e um sussurrado “gomennasai” (tradução: peço desculpas). O grau de inclinação do corpo é proporcional ao peso na consciência do arrependido. É utilizado em vários momentos da vida do povo japonês. Se a falta e a afronta forem leves, isso bastará;
2. O rito do “doguezá” é realizado quando a falha e a ofensa são medianas e consiste em ajoelhar-se com a testa quase encostada no chão acompanhado de um “moushiwake arimasendeshita”, o qual deve ser dito em tom bem elevado e de forma clara (tradução: sou culpado e não tenho nada a dizer a meu favor); e
3. A cerimônia do “seppuku”, também conhecida como “harakiri”, é praticada quando se busca uma honrosa retratação. Solari e Hirasaki publicaram no seu artigo que, em 1582, após perder uma batalha, o General Akashi Gidayu cometeu o “seppuku” – cortou o próprio ventre com uma kataná (espada) diante de suas tropas. Quem assistiu ao filme “O Último Samurai”, protagonizado por Tom Cruise, presenciou este costume sendo executado em uma das cenas finais.
A real proporção que a Cultura da Desculpa no Japão é capaz de atingir é imensurável. Tal magnitude pôde ser acompanhada em diversas ocasiões quando governadores e ministros retrataram-se formalmente para restabelecer vínculos diplomáticos. Essa herança cultural é transmitida de geração a geração e desse conjunto de valores morais e espirituais, nem mesmo os imperadores estão isentos.
Para os japoneses, o “erro" desonra o nome da pessoa que o efetuou e o da sua família. De acordo com aquele velho ditado, realmente “o buraco é mais embaixo”, pois dependendo da gravidade, esta obrigação recai tanto sobre os que já se foram quanto aos que virão. Várias gerações podem se passar até que a família do arrependido consiga quitar este débito, restaurar o nome da sua linhagem e obter o perdão dos seus ancestrais. Essa é a maneira milenar do povo japonês se portar diante de um erro.
Por isso, não valorizar esse modo de vida ainda é um dos principais motivos pelos quais as empresas estrangeiras que se estabelecem no Japão dão o famoso tiro no pé. Segundo os consultores de crise japoneses, quando elas ignoram este hábito ou não o realizam corretamente, a opinião pública reage com uma fúria sem igual, pois na cultura nipônica conceder o perdão e relevar a falta é prática comum se a organização reconhecer e se desculpar rapidamente.
Há dois pontos de vista a destacar:
a) do lado ocidental, a orientação da alta direção é esperar o final das investigações e pedir desculpas somente se for comprovada a culpa da empresa. Fazê-lo antes significa admitir a responsabilidade, o que não é tolerável, pois incorrerá em custos elevados com processos civis e trabalhistas e, principalmente, denigrir a imagem da empresa; e
b) do lado oriental, na maioria das vezes o pedido de desculpas (gomennasai) é visto mais como uma forma de subordinação à sociedade do que verdadeiramente uma admissão de “mea culpa”. É um gesto humilde cujo propósito é demonstrar a minúscula importância do ser humano e consequente obediência que ele deve ter diante de uma sociedade muito maior e mais importante.
Infelizmente, nos 6 continentes o “profissional global” encontrará empresas que se orientam por meio da “cultura do medo” ao tratar das tentativas e erros de seus colaboradores quando estes buscam superar alguma contingência. Tais empresas adoram expressá-la por meio daquela famosa frase motivacional: – Se errar, passe amanhã no RH que eles querem ter uma palavrinha com você!
Assim como aprendemos a andar para frente, há casos em que você será julgado, condenado e punido por conta do seu engano. O ponto central da questão não é o erro, mas a relação que se cria com ele. Errar não é só humano como essencial ao crescimento pessoal e profissional. Júlio Lobos afirmou que, se você não tem fracassos na sua vida, é porque deixou de assumir os riscos que deveria e evidencio: as responsabilidades por suas escolhas.
Portanto, fecho esta trilogia com o pensamento de que ninguém é infalível e todos, sem exceção, estão sujeitos ao insucesso. Certas pessoas o chamam de cochilo, descuido, deslize, desvio, engano, equívoco, escorregada, escorregadela, falha, falta, imprecisão, lapso, mancada, pecado, tropeço, vacilada ou “Erro”. Ninguém deve ir ao encontro do erro, mas a verdade é que o grande General Napoleão Bonaparte só perdeu a guerra porque nunca havia perdido uma batalha sequer.
Por Roberto H. Tanaka
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