quarta-feira, 20 de junho de 2012

Cortina de fumaça

Errar é humano, acusar os outros é política.” (Ivar Wallensteen)

Outro dia presenciei uma cena na telinha que há muito não via: na mesa de reunião onde é avaliado o desempenho das equipes, vi e ouvi uma sucessão infinita de acusações entre os seus integrantes e no lugar de colegas de trabalho, vislumbrei apenas gladiadores se engalfinhando na tentativa de se salvarem. DETALHE: esse reality show se passa em outro universo.

Caros leitores, talvez vocês já tenham ouvido falar desse reality show onde há duas equipes que competem entre si – aqui eu as designo como Equipe A e Equipe B – e ambas têm que desenvolver a mesma tarefa com recursos similares.
  1. Quem obtiver o melhor resultado com o menor custo alinhado aos objetivos pré-determinados, sagrar-se-á o vencedor.
    1. Nem sempre o motivo pelo qual uma equipe não atingiu a meta estabelecida foi devido a um péssimo desempenho, e sim porque o outro time realmente surpreendeu, superou-se e conseguiu uma melhor performance.
      1. Neste caso específico, o trabalho executado pela Equipe A foi uma total negação.
    2. O time perdedor é conduzido à sala de reunião onde se encontra a mesa diretora, composta por 1 presidente e 2 diretores executivos.
      1. Lá será decidido qual dos integrantes deverá deixar o programa.
Nesta prova em particular, a Equipe B terminou a tarefa 10 horas antes dos rivais. Verdade seja dita, todos os membros da Equipe A, sem exceção, não contribuíram como esperado.

Em uma determinada fase da disputa, um dos membros femininos da Equipe A pecou ao retocar a maquiagem na hora errada. Aqueles poucos instantes foram suficientes para que ela se tornasse o alvo dos demais integrantes de sua equipe, na temida sala de reuniões.

VAMOS ÀS CONSIDERAÇÕES:

  1. Se ela retocasse a maquiagem no banheiro feminino, tal ato passaria despercebido, mas ela o realizou na presença de todos.
    1. Ao fazer isso, literalmente ela colocou a cabeça em uma guilhotina e pediu que a cortassem. Se foi ou não por ingenuidade, isso não vem ao caso.
      1. Presumo que ela tenha levado uns 2 minutos para retocar a maquiagem, portanto, ela não foi a única e principal responsável pelas 10 horas de atraso.
    2. Indiscutivelmente o responsável pela perda da prova foi o líder, tanto que ele foi o eliminado. 
      1. Ele conseguiu tornar o fácil no quase impossível de ser feito, porém isso acontece nas melhores famílias e empresas.
      2.  Não é uma justificativa, mas ele evoluiu após esse revés.
  2. Metade da equipe não se mostrava a favor ou contra porque também influenciaram no resultado da prova e, caso alguém dissesse algo, poderia se tornar o próximo alvo.
    1. Preferiram usar os seguintes artifícios: “fingir-se de morto”, “não é comigo”, “eu nem estou aqui”.
  3. A outra metade da equipe só “batia” na “moça da maquiagem”.
  4. Por que agiam dessa maneira? A resposta é simples: CORTINA DE FUMAÇA.
    1. Pelo mesmo motivo que a metade não se manifestava, os acusadores o faziam para desviar o foco deles, já que todos sabiam que comprometeram o resultado desse teste.
    2. Os que só a criticavam tinham a real noção de que ninguém simpatizava muito com ela, portanto, enxergaram uma oportunidade de se obter um consenso.
      1. Seguindo por essa linha de raciocínio, isso faria com que ficassem do mesmo lado e conseguissem, momentaneamente, conquistar aliados.
  5. Apesar de tudo, ela não foi eliminada e ganhou uma nova oportunidade no reality show, embora soubesse que estava, a partir de então, totalmente sozinha.
Portanto, quando perceberem algo semelhante, isso pode ser um sinal claro de que o acusador também pode ter uma parcela de culpa e está à procura de um provável bode expiatório.

Encerrarei este artigo com uma frase de Carlos Drummond de Andrade: “O medo une mais os homens do que a coragem”.

Texto escrito por Roberto Tanaka: professor e consultor da Arima Treinamentos.


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