Outro dia presenciei uma cena na telinha que há muito não via: na mesa de reunião onde é avaliado o desempenho das equipes, vi e ouvi uma sucessão infinita de acusações entre os seus integrantes e no lugar de colegas de trabalho, vislumbrei apenas gladiadores se engalfinhando na tentativa de se salvarem. DETALHE: esse reality show se passa em outro universo.
Caros leitores, talvez vocês já tenham ouvido falar desse reality show onde há duas equipes que competem entre si – aqui eu as designo como Equipe A e Equipe B – e ambas têm que desenvolver a mesma tarefa com recursos similares.
- Quem obtiver o melhor resultado com o menor custo alinhado aos objetivos pré-determinados, sagrar-se-á o vencedor.
- Nem sempre o motivo pelo qual uma equipe não atingiu a meta estabelecida foi devido a um péssimo desempenho, e sim porque o outro time realmente surpreendeu, superou-se e conseguiu uma melhor performance.
- Neste caso específico, o trabalho executado pela Equipe A foi uma total negação.
- O time perdedor é conduzido à sala de reunião onde se encontra a mesa diretora, composta por 1 presidente e 2 diretores executivos.
- Lá será decidido qual dos integrantes deverá deixar o programa.
Em uma determinada fase da disputa, um dos membros femininos da Equipe A pecou ao retocar a maquiagem na hora errada. Aqueles poucos instantes foram suficientes para que ela se tornasse o alvo dos demais integrantes de sua equipe, na temida sala de reuniões.
VAMOS ÀS CONSIDERAÇÕES:
- Se ela retocasse a maquiagem no banheiro feminino, tal ato passaria despercebido, mas ela o realizou na presença de todos.
- Ao fazer isso, literalmente ela colocou a cabeça em uma guilhotina e pediu que a cortassem. Se foi ou não por ingenuidade, isso não vem ao caso.
- Presumo que ela tenha levado uns 2 minutos para retocar a maquiagem, portanto, ela não foi a única e principal responsável pelas 10 horas de atraso.
- Indiscutivelmente o responsável pela perda da prova foi o líder, tanto que ele foi o eliminado.
- Ele conseguiu tornar o fácil no quase impossível de ser feito, porém isso acontece nas melhores famílias e empresas.
- Não é uma justificativa, mas ele evoluiu após esse revés.
- Metade da equipe não se mostrava a favor ou contra porque também influenciaram no resultado da prova e, caso alguém dissesse algo, poderia se tornar o próximo alvo.
- Preferiram usar os seguintes artifícios: “fingir-se de morto”, “não é comigo”, “eu nem estou aqui”.
- A outra metade da equipe só “batia” na “moça da maquiagem”.
- Por que agiam dessa maneira? A resposta é simples: CORTINA DE FUMAÇA.
- Pelo mesmo motivo que a metade não se manifestava, os acusadores o faziam para desviar o foco deles, já que todos sabiam que comprometeram o resultado desse teste.
- Os que só a criticavam tinham a real noção de que ninguém simpatizava muito com ela, portanto, enxergaram uma oportunidade de se obter um consenso.
- Seguindo por essa linha de raciocínio, isso faria com que ficassem do mesmo lado e conseguissem, momentaneamente, conquistar aliados.
- Apesar de tudo, ela não foi eliminada e ganhou uma nova oportunidade no reality show, embora soubesse que estava, a partir de então, totalmente sozinha.
Encerrarei este artigo com uma frase de Carlos Drummond de Andrade: “O medo une mais os homens do que a coragem”.
Texto escrito por Roberto Tanaka: professor e consultor da Arima Treinamentos.