terça-feira, 16 de outubro de 2012

Desta água nunca beberei



“Quem apanha, lembra; quem bate, esquece.” (Ditado Popular)


Tenho a plena convicção que a maioria das pessoas já ouviu os seguintes conselhos: “Cuidado! Nunca diga não, porque não sabemos o que o amanhã nos reserva!” e “Nunca feche uma porta, pois não sabemos o fim da nossa jornada”.

No mundo corporativo, a soma dessas duas frases é mais do que uma possibilidade e os mais místicos a definem como uma conjunção astral que deveria acontecer somente de mil em mil anos.

Há vários anos, quando era gerente de novos negócios em uma consultoria, acompanhei o diretor comercial, o Sr. Adão, a uma reunião que se realizaria na sede de um dos nossos mais antigos clientes, conhecida como empresa X e cujo contrato fora fechado por ele. Aliás, eu seria apresentado à senhora Eva, a nova gerente operacional, já que o Sr. Adão a conhecia de outra organização, a empresa Z, a qual também era nossa cliente. Isso me tranquilizou porque fui à reunião achando que poderia haver algum problema com o contrato ou que, como ela acabara de assumir, solicitar-nos-ia uma redução no preço.

A reunião transcorria informalmente e relembrávamos casos antigos, pessoas conhecidas, até que abordamos o assunto principal. Adivinhem o que estava atrás da porta número 2? Redução do custo ou ela procuraria outro fornecedor. Para encurtar a história, nos 5 meses seguintes foram concedidas mais duas reduções até o encerramento do contrato. Justificativa: o serviço seria executado internamente porque era a política da atual diretoria.

Mas agora vem a pergunta que não quer calar: – Se eles se conheciam de longa data, o preço era razoável, o projeto estava sendo executado de acordo com os parâmetros estabelecidos etc., onde é que erramos?

Após algum tempo, ao assumir o cargo de diretor comercial, encontrei-me com a Sra. Eva em um congresso e inevitavelmente abordei o assunto daquele contrato encerrado há tanto tempo. Ela me confidenciou que, antes de se tornar gerente operacional na empresa X, fora supervisora operacional na empresa Z e que o meu antigo diretor comercial visitava-os frequentemente, porém ele nunca havia lhe dirigido a palavra ou sequer lançado um olhar de “tudo bem?”. A verdade é que o Sr. Adão conversava apenas com as pessoas que possuíam o cargo de Gerentes ou Diretores.

Moral da história: Desde a Antiguidade não há como adivinharmos se um possível aliado se tornará um “desafeto” como resposta a algo que você fez ou deixou de fazer. Assim como dois e dois são quatro, posso lhe afirmar categoricamente que ao chegarmos a uma encruzilhada em qualquer tipo de negociação, o passado pode vir à tona e fazer a balança pender para o lado em que o resultado não será nem um pouco agradável.

De todos os pecados que o ser humano comete, aqueles que advêm do orgulho, cujos sinônimos são a arrogância e a vaidade, são os piores. Isso porque a arrogância se baseia no simples fato de que não é preciso melhorar, visto que a pessoa se acha infinitamente superior aos outros e sem humildade não há como evoluir, pois é justamente essa a qualidade que nos permite vislumbrar as chances de melhoria. Mas esse é um assunto para um próximo artigo.

Para finalizar, citarei Winston Churchill: “Você cria o seu próprio universo ao longo do caminho”.  E complementarei essa frase com o título deste artigo: Nunca diga que desta água não beberei, porque a vida é cheia de surpresas e, por diversas vezes, muitíssimo engraçada. O Sim de hoje pode ser o Não de amanhã. Hoje, eu não preciso de você; amanhã, o meu modo de vida pode depender de uma aprovação sua.

E assim caminha a humanidade.

Texto escrito por Roberto Tanaka: professor e consultor da Arima Treinamentos.